Discriminação tabacal ou o pecado de enrolar
Sou fumadora há pouco mais de 10 anos, e, acredite-se não é nada de que me orgulhe. O primeiro cigarro fumei-o no dia da minha primeira bebedeira. Era um Marlboro de uma beleza incrível. Não sei se era o álcool, se a estupidez da adolescência, mas parecia-me que aquele cigarro me transportaria a sítios nunca antes visitados. Bem... se aceitarmos que tonturas e má disposição ficam num local virgem, então eu estive lá.
O cigarro, roubado à minha irmã do meio, foi aceso com um fósforo de cozinha, daqueles que cheiram mesmo muito a enxofre. Fumei-o todo, com passas verdadeiras.
Desde então, nunca mais larguei o vício. De Marlboro, passei ao Marlboro Lights, com algumas experimentações de L&M e SG Crava ou SG se me dão.
É dos vícios mais curiosos que conheço. Sabemos tudo acerca dos malefícios: envelhece a pele, provoca (ou pode provocar) doenças cardiovasculares, diminui a fertilidade (o que, de certa forma até me deixa descansada!), torna o cabelo quebradiço, faz celulite (com a pílula então, nem se fala...), provoca cáries, mau hálito, câncros de toda a espécie... e ainda assim, eu, uma jovem quase formada, inteligente (ou minimamente), que até quer ter filhos e não espera morrer lentamente, não larga a porcaria do vício.
Enfim... o ser humano é um bicho estúpido e o tabaco um vício chato.
Como as tentativas de deixar de fumar nunca foram por iniciativa própria, nunca consegui largar o tabaco. Vai daí, aceitei os conselhos de uma amiga e passei a fumar tabaco de enrolar. Se por um lado tem vantagens, torna-nos em seres quase vindos de outro planeta. E passo a explicar:
Por ser mais barato (€2,80) e em maior quantidade, o tabaco de enrolar causa menos mossa no orçamento mensal. Fuma-se menos, porque dá mais trabalho a enrolar. Tem menos químicos. Não faz catarro. Cheira menos mal. Se for fumado com filtros mais finos e mortalhas do tipo A contém metade dos níveis de nicotina e alcatrão em relação a um cigarro normal. É só vantagens. (tirando todas as desvantagens de ser fumador)
No entanto, notei que, quando estou a fazer um cigarro, as pessoas passam por mim, procuram, sedentas, uma pedra de haxixe e quando a não vêem, mostram uma expressão facial que diz, com todas as letras: "Já queimou, agora só está a enrolar. endrogada!
É por isso, meus amigos fumadores, que digo: eu sou vítima de discriminação tabacal!
Apesar de tudo, Fumemos!, como diria Almeida Garret nas "Viagens na minha terra"!
Susana Paixão
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