Agora que já ninguém quer saber
Depois de tanto se ter dito e escrito sobre a questão, pensei seriamente em não escrever sobre o aborto. Nem sequer quero divagar sobre a hipótese da despenalização. Nem sequer desejo exprimir a minha opinião acerca disso. Aborrece-me que o tentem fazer: os pró e os contra-aborto.
Em 1996 vivi de muito perto um caso de aborto depois das 12 semanas. Muito próximo, dentro da minha própria casa. Acompanhei tudo desde o início. Em especial a ilusão de que a criança seria feliz na vida que lhe era adivinhada. Diga-se o que se disser, nunca é de ânimo leve que uma mulher faz um aborto. O que acontece é que outras questões, que não as éticas, se levantam na altura de decidir entre a vida ou a não-vida. E por não-vida entenda-se tanto a morte como aquela existência sem vida. E por vida entenda-se tudo o que de mínimo é exigido ao bem estar de uma criança. Amor, família, condições de higiene e segurança e, sobretudo, perspectivas de crescimento saudável.
Em 1996 vivi de muito perto um caso de aborto depois das 12 semanas. Muito próximo, dentro da minha própria casa. Acompanhei tudo desde o início. Em especial a ilusão de que a criança seria feliz na vida que lhe era adivinhada. Diga-se o que se disser, nunca é de ânimo leve que uma mulher faz um aborto. O que acontece é que outras questões, que não as éticas, se levantam na altura de decidir entre a vida ou a não-vida. E por não-vida entenda-se tanto a morte como aquela existência sem vida. E por vida entenda-se tudo o que de mínimo é exigido ao bem estar de uma criança. Amor, família, condições de higiene e segurança e, sobretudo, perspectivas de crescimento saudável.
Tenho a certeza de que, se a tal criança tivesse vivido, hoje seria uma criança igual às outras. Já a mãe... não sei se ainda seria mulher, mãe, indivíduo. Provavelmente ter-se-ia apagado na infelicidade de não poder oferecer à criança aquilo que sempre desejara. Provavelmente teria mesmo decidido deixá-la com os avós ou com os tios, mas sempre com terceiros. Provavelmente seria infeliz por ter decidido de acordo com as regras da sociedade e não com as regras do SEU coração.
A mãe, agora mesmo mãe, chorou muito pela decisão que tomou, mas foi a que mais pesou na balança do SEU coração. Porque são assim as decisões que tomamos na vida: deixamos sempre alguma coisa para trás. E fica sempre a dúvida: como teria sido?
Hoje, passados que estão uma série de anos, sinto que também eu teria feito o mesmo. Porque ter um filho não são nove meses de gravidez: é uma vida inteira. Ou deveria ser. Ter um filho não é como comprar casa ou carro - "aquilo" é nosso para sempre - com tudo o que de bom e mau daí advém.
Eu faria um aborto se o MEU coração mandasse. E não há nada que eu queira mais do que ser mãe.
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