Nunca gostei muito do mês de Abril, especialmente pela carga conotativa com a chuva: "Abril, águas mil". Por esta altura já toda a gente saberá que sou mais rapariga de sol, muito sol. No entanto, e sempre que penso em Abril, lembro-me impreterivelmente do 25 de Abril.
Parece-me justo recordar a data, embora seja pouco dada a discutir assuntos que estão na ordem do dia.
Não vivi Abril. Ainda cá não estava. De qualquer forma, parece-me que, mesmo que já fosse gente, não teria sentido grande coisa. A minha mãe, que na altura tinha pouco mais de 20 anos, recorda apenas que não havia barcos do Seixal para Lisboa e que na rádio nada tocava. A minha futura sogra, que morava no Alentejo, diz que só soube das coisas dois dias depois. O meu pai lembra-se dos militares na capital sem perceber o que acontecia. A minha avó não sabe muito bem o que aconteceu.
Tenho pena de não ter vivido o 25 de Abri de 74, mas tenho mais pena de não existirem memórias de família. Todos eles recordam o que foi antes e o que foi depois, mas com pouco entusiasmo. Será, afinal, que só os militares, políticos e alfacinhas da época saberão o que foi o 25 de Abril?
Se estiver alguém desse lado que me dê pormenores interessantes da véspera e do dia, do antes e do depois agradeço que me contem tudo. Tenho saudades desse tempo que não conheci.
Sei que foi Revolução. Duvido que tenha sido Evolução.
A propósito, chegou-me hoje por e-mail:
"Trinta anos depois querem tirar o
r
se puderem vai a cedilha e o til
trinta anos depois alguém que berre
r de revolução r de Abril
r até de porra r vezes dois
r de renascer trinta anos depois
Trinta anos depois ainda nos resta
da liberdade o
l mas qualquer dia
democracia fica sem o
d.
Alguém que fça um
f para a festa
alguém que venha perguntar porquê
e traga um grande
p de poesia.
Trinta anos depos a vida é tua
agarra as letras todas e com elas
escreve a palavra amor (onde somos sempre dois)
escreve a palavra amor em cada rua
e então verás de novo as caravelas
a passar por aqui: trinta anos depois."
Manuel Alegre